Por: Larissa Vieira
Com a finalização do Sequenciamento do Genoma Bovino, a seleção genômica deve ganhar força na pecuária nacional a partir de agora. Muitos criatórios já estão aliando as ferramentas tradicionais de seleção, como as DEPs, às tecnologias surgidas a partir dos avanços das pesquisas com DNA (é o caso dos marcadores moleculares). E essa nova realidade será debatida durante a ExpoGenética. O professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP), José Fernando Garcia, confirmou presença no evento como palestrante do dia 18 de agosto, às 11h. Um dos pesquisadores brasileiros que participou do Sequenciamento do Genoma Bovino, Garcia falará sobre “Seleção Genômica aplicada a zebuínos”. Entrevistamos o professor da UNESP sobre o assunto e adiantamos para vocês o que ele pensa sobre alguns pontos da seleção genômica. Confira o bate-papo:
Blog ExpoGenética- Qual será a contribuição do Sequenciamento do Genoma Bovino para a pecuária nacional?
José Fernando Garcia- A partir da finalização do projeto Genoma Bovino, passamos a ter acesso ao catálogo de endereços dos genes do bovino. Sabemos agora onde está localizado cada um dos cerca de 22.000 genes que representam a espécie bovina. Juntamente com o anúncio do término do sequenciamento do genoma, foi descrita a aplicação de uma ferramenta denominada "SNP chip", que se constitui num teste diagnóstico simultâneo de mais de 50.000 marcadores pontuais (SNP) aleatórios num indivíduo, e que vai permitir, a partir de agora, o rastreamento de diferenças (variabilidade) entre animais, populações e raças. Essa nova ferramenta vai permitir a descoberta de regiões do genoma que contenham alterações que expliquem as características que buscamos através da seleção convencional. Por exemplo, ao compararmos animais que sabidamente possuem desempenho diferente num mesmo ambiente, utilizando essa nova ferramenta, podemos descobrir o caminho para os genes causais (aqueles que atuam na manifestação da característica). Esse é o momento de novos estudos e novos projetos, mas essa ferramenta sem dúvida nenhuma causará grande impacto na forma como se faz pesquisa nessa área. Características como maciez e marmoreio de carne, qualidades da carcaça, precocidade sexual, entre outras, poderão ser acessadas com precisão e os genes envolvidos nos processos identificados e mapeados para desenvolvimento de novas ferramentas de seleção.
Blog ExpoGenética- Essa contribuição já está ocorrendo e de que forma?
José Fernando Garcia- Essa é uma das particularidades do sequenciamento do genoma bovino, se comparado ao do humano. É possível aplicar imediatamente os conhecimentos adquiridos para seleção de melhores indivíduos. Empresas privadas já estão trabalhando nesse novo setor, oferecendo testes de DNA que proporcionam informações importantes ao selecionador para tomada de decisões. Com o passar do tempo e desenvolvimento de mais pesquisas utilizando essas novas ferramentas, os testes hoje disponíveis ficarão ainda melhores e mais acurados, auxiliando nos programas de melhoramento genético em curso atualmente.
Blog ExpoGenética- Qual será o impacto direto do Sequenciamento do Genoma Bovino nos programas de avaliação e melhoramento genético de bovinos? E no processo de seleção dos criadores?
José Fernando Garcia- Eu vislumbro os programas de avaliação e melhoramento genético atualmente em andamento incorporando mais essa informação (marcadores genéticos específicos) nos seus processos e análises matemáticas, trazendo ainda maior acurácia aos resultados. Outra perspectiva, que já está se tornando realidade na raça Holandesa, é a de realizarmos o que se denomina Seleção Genômica, através do cálculo de DEPs (diferenças esperadas na progênie) Genômicas. Essas informações dependem da correlação de marcadores genéticos e bancos de dados fenotípicos, que gerariam informações para tomada de decisões de melhoramento. Esse procedimento teria a vantagem de diminuir custos com programas de seleção e provas de progênie, reduzindo o número de touros testados. Apesar de já estar sendo aplicada na prática na raça Holandesa nos Estados Unidos, ainda depende de estudos e pesquisas para as raças de corte (tanto no exterior quanto no Brasil).
Blog ExpoGenética- O genoma sequenciado foi de um taurino. Houve estudos também com zebuínos? Comparando taurinos e zebuínos, quais as principais diferenças apontadas pelo estudo?
José Fernando Garcia- No projeto do Bovine Hap Map foram analisadas raças zebuínas (gir, brahman e nelore), que foram comparadas com outras 17 raças (majoritariamente taurinas). O estudo apontou o já esperado: as raças zebuínas agrupam-se num bloco independente das raças taurinas (nesse caso utilizando cerca de 50.000 marcadores, o que reafirmou os estudos clássicos anteriores). A conclusão é de que os zebuínos de fato têm grandes diferenças genéticas moleculares quando comparados aos taurinos. O que chamou a atenção foi a mais alta heterozigozidade do zebuíno (nesse caso somente da raça brahman, utilizada em análises complementares) quando comparadas às raças angus e holandesa. A explicação para isso deve-se ao papel da pressão de seleção exercida nas raças taurinas e também à provável maior base de seleção (maior população) onde se originaram as raças zebuínas (sul da Ásia). Estudos adicionais em andamento deverão trazer mais luzes a essa questão em breve.
Blog ExpoGenética- Haverá um seqüenciamento do genoma do zebu?
José Fernando Garcia- O fato de ter sido sequenciado o genoma completo de um taurino gerou informações necessárias para o trabalho de pesquisa com zebuínos, afinal ambos são muito semelhantes e da mesma espécie. Vislumbro que estudos comparativos serão conduzidos a partir de agora para tentar descobrir a causa genética para as diferenças que observamos. Acho que estamos no momento certo de enxergarmos o boi por dentro, tanto o taurino quanto o zebuíno, e explorarmos o que há de mais interessante em cada um dos biótipos para o desenvolvimento de melhores modelos para a pecuária, fortalecendo a economia dos países em desenvolvimento e consequentemente a sua segurança alimentar.
2 comentários:
Não tenho dúvidas que o genoma bovino será uma excelente ferramenta,porém tenho por dever LEMBRAR A IMPORTÂNCIA PARA A RESISTÊNCIA QUE OS ZEBUÍNOS TEM,AO LONGO DA SELEÇÃO NATURAL,PARA SOBREVIVER ÀS ADVERSIDADES NATURAIS,O que lhe promoveu no mundo e no BRASIL CONTINENTAL.Nos ZEBUÍNOS tenho a convicção de que estes "alelos" tenham que continuar a serem priorizados,junto com os demais
Comentando o que foi mencionado pela Fazenda Ita/Itaguai, concordo com o fato de que os "alelos" zebuinos tenham que continuar em nosso rebanho. Ao importarmos animais da India (com clima reconhecidamente mais parecido com o nosso) e não da Europa, para formar a base do nosso rebanho atual, tomamos a decisão correta.
Entretanto temos que reconhecer que a explosão do nosso zebu, está tambem associada a permanencia de "alelos" taurinos, que provavelmente descendem do gado criolo que por aqui predominou até a chegada mais recente do zebu (final do século XIX).
O que o conhecimento do genoma nos permitirá a partir de agora, é encontrar o "tempero" certo dos alelos, explorando a máxima qualidade de cada uma das sub-especies que compõe o nosso zebu (resistencia e adaptação x produtividade).
Além disso, espera-se que mesmo numa população zebuína existam "alelos" mais favoráveis do que outros, podendo ser os primeiros objeto de seleção precisa.
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